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Alpinista de Pouso Alegre explora pico das montanhas mais altas das Américas

Bruno Reis já escalou duas montanhas com mais de 6 mil metros, mas a meta é chegar ao topo de pelo menos dez como esse nível de altitude.

Gabriella Starneck / 01 setembro 2021

Bruno Reis e André Moreira no pico Huayna Potosi, que fica a 6.088 metros de altitude. Foto: Bruno Reis

Foi escalando o Pico dos Marins, montanha situada na serra da Mantiqueira, em 2014, que Bruno Reis, de 34 anos, descobriu sua paixão pelo alpinismo. O comerciante e alpinista de Pouso Alegre decidiu explorar montanhas ainda mais altas. A aventura mais recente foi há poucos dias na Bolívia, quando ele tentou escalar dois picos acima de 6 mil metros de altitude – o Huayna Potosi, com 6.088 m, e o Illimani, com 6.448 m.

O primeiro desafio foi escalar o Huayna Potosi. Após passar por um processo de aclimatação, adaptação do organismo em um novo ambiente, Bruno Reis e seu amigo André Moreira, também de Pouso Alegre, começaram a escalada às 1h da madrugada. Ele conta que em montanhas com gelo a escalada deve acontecer à noite, já que durante o dia o sol aumenta o risco de deslizamento de pedras, devido ao derretimento do gelo, e avalanches.

“Conseguimos chegar ao topo, embora estivéssemos exaustos. Foi muito lindo apreciar um nascer do sol a 6.088 metros de altitude em relação ao nível do mar. É gratificante estar no topo de uma montanha tão alta e imponente”, comemora Bruno Reis sobre a escalada ao Huayna Potosi.

Após voltar para La Paz e descansar por cinco dias, o alpinista começou a se preparar para seu maior desafio – uma escalada de 3 dias para alcançar a montanha mais alta da Cordilheira Real e a segunda mais alta de toda Bolívia, o Illimani – cartão postal da cidade, também conhecido como o Guardião de La Paz. Dessa vez, Bruno Reis foi acompanhado de um guia local, já que seu amigo decidiu não fazer uma nova escalada.

Escalada ao Illimani

O maior desafio da expedição começou no dia 28 de agosto, quando ele e o guia local foram até o campo base do Illimani, a 4.400 m de altitude. Nesse local, eles acamparam para definirem os últimos detalhes para subir ao topo mais alto. O alpinista relata que foi uma noite tranquila. No outro dia, eles acordaram, tomaram um café reforçado e caminharam aproximadamente cinco horas, com desnível de 1.100 m, para chegar ao Nido de Condores, a 5.500 m de altitude. Mas dessa vez, o trajeto não foi tão tranquilo. 

“Foi cansativo, a mochila com os equipamentos pesam mais de 20 kg. Detalhe que durante essa caminhada  presenciamos várias avalanches. Embora o guia sempre estivesse me falando que era normal, eu confesso que não havia presenciado isso ainda e senti um pouco de medo. Mas segui em frente. Montamos o acampamento e fizemos uma refeição para descansarmos, já que às 00:00 de domingo pra segunda iniciaríamos a nossa escalada final rumo ao Illimani, de 6.448 m de altitude”, conta Bruno Reis.

Illimani é a segunda montanha mais alta da Bolívia, com 6.448 metros de altitude. Foto: Bruno Reis

Apesar do frio intenso, medo das avalanches e outros percalços do caminho, o alpinista disse que a bela paisagem da montanha era a principal motivação pra estar ali e realizar o objetivo. A altitude já não era mais um problema. Eles caminharam por duas horas e meia até começarem a subir a escada do céu, nome dado a um trecho bem inclinado da montanha. Mas desse vez, ele não conseguiu completar a missão.

“Foi nessa parte que ouvi uma avalanche terrível muito próximo da rota onde estávamos. Minhas mãos e meus pés latejavam nas extremidades, eu sentia frio e medo. Nesse momento tomei a difícil decisão de regressar ao acampamento. E não estava mais em condições de seguir em frente, embora o guia insistisse para que continuássemos. Eu não tinha mais psicológico para seguir. Pensei na minha família, amigos, e decidi que não seguiria em frente. Foi bastante triste pra mim, restavam uns 350 metros para alcançar o topo, cerca de três horas a mais de escalada. Dediquei muito nesse projeto, mas foi a hora de refletir e tomar a decisão”, relata o alpinista.

Novos desafios

Apesar de não chegar ao topo do Illimani, Bruno Reis refletiu que precisa de equipamentos melhores, de um melhor preparo físico e psicológico para ir além. Mas a experiência agregou em sua trajetória como alpinista. Ele já escalou a Mantiqueira; pico de Orizaba (5.636 m), no Mexico; o Cotopaxi (5.897 m) e Chimborazo (6.268 m), ambas no Equador; e, agora, o Huayna Potosi (6.088 m), na Bolívia.

Vulcão Cotopaxi fica a 5.897 metros de altitude, segunda montanha mais alta do Equador. Foto: Bruno Reis

A meta é escalar ao menos dez montanhas acima de 6.000 metros de altitude ao longo de sua vida. Entre essas, está o Aconcagua, montanha mais alta da América e também a mais alta fora dos Himalayas.

“Claro que pra tudo isso se concretizar, seria importante apoio financeiro, já que tudo o que consegui até hoje foi por conta própria, sem nenhum auxílio. Enquanto não surge patrocínio, caminho a passos lentos rumo aos meus objetivos. Eu sinto uma enorme honra em levar o nome da nossa cidade para o topo das montanhas mais altas da América, e estou buscando um espaço no cenário do alpinismo nacional. Tenho planos de escrever um livro contando tudo sobre a trajetória: da Mantiqueira ao topo das Américas!”, comemora Bruno Reis.

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