A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu o inquérito sobre a morte da psicóloga Marilda Matias Ferreira dos Santos. De acordo com os laudos da perícia e os exames toxicológicos, a investigação concluiu que Marilda Matias cometeu suicídio.
“Esse foi um caso um pouco emblemático para a Polícia Civil e toda população, em razão de uma possibilidade de um possível homicídio. Os investigadores foram até o local no dia do crime e naquele primeiro momento, ficou evidente que não havia nenhum sinal de violência, não havia lesões pelo corpo da vítima, não havia danos no imóvel, sinais de arrombamento, não existiam subtração de nenhum tipo de objeto, nada de valor na casa e que aquilo estaria parecendo um cenário, algo que foi montado, não uma cena de crime”, afirmou o Delegado Rodrigo Bartoli.
O corpo de Marilda foi encontrado, pelo marido, no porta-malas do carro da vítima, que estava estacionado na garagem da casa deles, no bairro Fátima 2, em Pouso Alegre, Sul de Minas. O fato aconteceu há quase sete meses, no domingo 22 de agosto de 2021.
“Todo o contexto, as provas que foram alcançadas, permitiu à polícia concluir que ela praticou suicídio. Ela montou esse cenário e criou algumas fantasias para demonstrar que seria um crime, porque ela não tinha essa coragem de praticar o suicídio perante os pacientes dela, perante a sociedade, então ela queria ocultar e queria demonstrar que ela faleceu por um homicídio, mas em maneira alguma ela tentou também incriminar o próprio marido”, explicou o Delegado.
A psicóloga, que tinha 37 anos, estava como as mãos e os pés amarrados. Porém, antes mesmo da conclusão do inquérito, a Polícia Civil já dizia que a vítima poderia ter se amarrado sozinha, pelo tipo de nó que havia sido dado. Não havia sinais de violência no corpo da psicóloga e nada tinha sido levado da casa.
As informações da conclusão do inquérito foram dadas em coletiva de imprensa da sede da delegacia nesta quarta-feira (16/02). Confira abaixo o detalhamento das investigações, dada pelo Delegado Rodrigo Bartoli.
Foto: Terra do Mandu
Envolvimento do marido foi descartado
O marido da vítima chegou a ser levado para a Delegacia, onde foi interrogado por cerca de 5 horas no dia em que o corpo foi encontrado e prestou todos os esclarecimentos. “Nesse primeiro contato, ele foi muito solícito, apresentou todas as informações que a gente precisava, inclusive forneceu seu telefone celular e a senhora para acesso dos investigadores e tudo que ele foi falando naquele primeiro momento, a equipe ia pra rua e começava a fazer as diligências”, contou o delegado.
Em depoimento, o marido disse que estava trabalhando no dia 21 de agosto, em uma fazenda em Careaçu, quando recebeu uma mensagem da esposa dizendo que iria pegar uma bike speed emprestada com um amigo para pedalar até Borda da Mata.
“Ele relatou que estava trabalhando e conversando com a Marilda por telefone, e que ela estava feliz por ter um passeio marcado com amigas com uma estrada de Borda da Mata. E foi exatamente essa conversa que a polícia encontrou no telefone dele. Quando ele retornou para casa, depois de seu trabalho, ele chegou na residência por volta das 16h e não encontrou a mulher”, afirma.
Mais tarde, quando chegou em casa, ele não encontrou a esposa e achou que ela ainda não teria chegado do passeio. Foi aí que ele foi até o hotel em busca de imagens, uma vez que a residência ficava no fundo.
Pouco tempo depois, como a esposa não apareceu, ele começou a procurá-la em hospitais e delegacia, mas não teve notícias. Por volta das 19h ou 20h, ele foi até o hotel em busca de imagens, segundo a polícia, uma vez que a residência ficava no fundo. Entretanto, os funcionários afirmaram que as imagens só poderia ser cedidas no dia seguinte, então o marido retornou para casa.
A Polícia pediu as imagens, posteriormente, e constatou que o marido estava contando a verdade. Depois, por volta das 20h, o homem contou foi para Borda da Mata atrás da mulher; os investigadores confirmaram a versão dele, através de registros de um radar na rodovia.
“Um amigo do casal também foi chamado e chegou na casa por volta das 21h30. As imagens da câmera vizinha à casa comprovam toda essa movimentação. Os dois percorrem hospitais, delegacia e não conseguem informações. Às 7h da manhã do dia seguinte, o homem voltou ao hotel onde havia solicitado as imagens das câmeras de segurança, mas recebeu a informação que elas não gravavam, então os funcionários não saberiam dizer o que aconteceu com a mulher”, contou os policiais.
Como o corpo foi encontrado
O homem ainda relatou que ficou a noite preocupado, já que os pertences da vítima estavam em casa, como celular, bolsa e outros objetos. Na manhã do dia seguinte, o marido resolveu abrir o carro da esposa, que estava na garagem de casa, e encontrou Marilda sem vida no porta-malas.
“Ele nesse tempo, não localizava a chave do veículo. Então somente às 8h30 do dia seguinte, deu um estalo para ele em um lugar específico do imóvel, onde ele lembrou da chave reserva. Ele abriu o veículo, na realidade, buscando um bilhete da Marilda, pois ela apresentou uma outra versão para o mesmo amigo do casal, com quem ela tinha encontrado pela manhã”, contou.
“Quando ele abre o veículo, dentro do carro ele não encontra nada, mas no porta-malas ele encontra a Marilda, por volta das 8h30 do dia seguinte”, completa o delegado.
Corpo foi encontrado pelo marido porta-malas, por volta das 8h30 do dia seguinte ao óbito / Foto: Redes Sociais
Homicídio foi descartado
No dia 29 de agosto, o delegado regional, Renato Gavião afirmou que nenhuma hipótese foi descartada. “A vítima foi localizada sem nenhum sinal de violência, nenhum sinal de arranhão, nenhum sinal de injeção ou qualquer coisa do tipo. Então, hoje a Polícia Civil trabalha com todas as hipóteses. Não podemos falar em crime de homicídio, não podemos falar em suicídio até a conclusão da investigação,” disse o delegado.
Entretanto, depois de muitas investigações, o caso de homicídio e feminicídio foi descartado. Sendo assim, faltava esclarecer a causa da morte da vítima, o que foi detectado pelos investigadores, posteriormente, como suicídio.
“Esse amigo do casal também foi interrogado no mesmo dia, apresentou todas as versões. Ali, desde daquele inicio das investigações a gente já estava descartando a hipótese de um feminicídio. Faltava esclarecer a causa da morte, já de maneira rápida a gente teve uma resposta do IML falando que não encontrou nenhum vestígio de lesão no corpo dela, nenhuma marca referente a picadas de agulhas, pois nós pensamos na possibilidade por ele ser farmacêutico ministrar algum medicamento que levasse ao óbito, não foi encontrado”, comentou o delegado.
“E os exames técnicos, depois feitos em complementação, demonstraram álcool no sangue dela e um medicamento fenobarbital. Então já descartamos o envolvimento do Pedro, do marido”, completou.
A polícia afirmou ainda que a mulher já havia tentado suicídio em janeiro de 2021, mas foi salva pelo marido, que chegou a tempo e conseguiu levá-la ao hospital. Familiares relataram ainda que quando mais nova a mulher já havia tentado outras vezes tirar a própria vida, entretanto, segundo a polícia, essa informação não foi confirmada oficialmente.
“Em janeiro daquele mesmo ano, a Marilda teria tentado suicídio; Pedro contou que ele saiu para trabalhar e quando ele retornou, ela estava desacordada, deitada na mesma posição de quando ele tinha saído. Então rapidamente ele pega ela e leva ao hospital. Os investigadores foram atrás dessa informação, conseguiram todo prontuário médico dela, que realmente apontou que ela tentou suicídio; que ela chegou lá com uma dose alta de fenobarbital também no sangue, inclusive ela foi intubada e ficou por três dias, e isso reforçava que ela teria ministrado o mesmo medicamento do caso anterior”, comentou o delegado.
“Com todo esse cenário, com todas as provas, os investigadores começaram a trabalhar em busca da motivação, tentar entender porque ela teria feito isso. Foi fechando todo quebra cabeça. Fomos concluindo que ela, na realidade, estacionou o veículo de ré, exatamente porque a casa era com portão de grade, então ninguém ia ver ela entrando no carro. As amarras que foram encontradas no corpo dela, as da mão estavam soltas, então ela mesmo teria colocado a mão e laçado, ela não estava presa. Então ela amarrou os pés e a mão. Ela estava vestida, maquiada, com óculos de sol, então quer dizer, ela se preparou para aquele momento do óbito. Ela também estava com a chave do veículo dentro do porta-malas, então se ela tivesse colocada ali com vida ela teria a chance, no caso de violência, de abrir o porta-malas e sair, então ela optou por não sair”, explicou ele.
“O laudo também demonstra que a concausa da morte foi asfixia, então ela dentro do porta-malas chegou a acabar o oxigênio no local, então demonstra que ela entrou viva ali e acabou falecendo”, completou.
Por fim, o desfecho, segundo o delegado, foi a leitura do diário da vítima, de todas as anotações dela, onde os investigadores concluíram que ela estava com um problema psicológico muito forte, estava sofrendo de depressão e tinha relatos de ideias de suicídio.
“Então todo esse contexto, essas provas que foram alcançadas, permitiu a polícia concluir que ela praticou suicídio, ela montou esse cenário e criou algumas fantasias para demonstrar que seria um crime, porque ela não tinha essa coragem de praticar o suicídio perante os pacientes dela, perante a sociedade, então ela queria ocultar e queria demonstrar que ela faleceu por um homicídio, mas em maneira alguma ela tentou também incriminar o próprio marido. Os autos foram encaminhados à Justiça, que também já manifestou por arquivamento”, concluiu o delegado.
Vale destacar que o medicamento Fenobarbital, citado como sendo o usado por Marilda, é um barbitúrico com propriedades anticonvulsivantes, devido à sua capacidade de elevar o limiar de convulsão; ele muito utilizado para o controle de convulsões em crianças.
“No diário ela relatava os problemas diários da vida dela, esse anseio em passar pelo lado de lá; ela não sabia afirmar até quando ela aguentaria estar nessa vida. Mas na agenda não tinha nada em relação ao dia do suicídio”, encerrou o delegado.
Confira abaixo a entrevista coletiva completa:
Relembre o caso
A psicóloga Marilda Matias Ferreira dos Santos, de 37 anos, foi encontrada morta dentro do porta-malas do próprio carro no dia 22 de agosto, em Pouso Alegre. O veículo estava estacionado na garagem da casa Quem encontrou o corpo e chamou a polícia foi o marido da vítima, um médico veterinário de 62 anos.
De acordo com a Polícia Civil, Marilda estava como os pés e as mãos amarradas, com roupa e capacete de ciclismo, e sem sinais de violência. Na casa onde ela morava também não havia indícios de arrombamento. O corpo da psicóloga foi enterrado em Bauru (SP), cidade natal da vítima e onde mora a família.
REPORTAGEM FEITA NO LOCAL NO DIA QUE O CORPO FOI ENCONTRADO: