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Presidente do TJMG diz que são “inaceitáveis os ataques intimidatórios” sofridos pela juíza de Itajubá

OAB também emitiu nota de repúdio onde considera ato grave membros do Legislativo Municipal convocar população para manifestações contra o Poder Judiciário. Um vereador da cidade foi um dos organizadores da manifestação e puxou gritos contra o Ministério Público Estadual que pediu na justiça o fechamento do comércio local após decreto do prefeito permitir reabertura de bares, academias e igrejas.

Vereador Renato Moraes, de cima de veículo da GM, puxou grito contra o Ministério Público. Imagem: reprodução redes sociais

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), subseção de Itajubá, divulgaram notas de repúdio contra a manifestação ocorrida ontem (13), onde um grupo de pessoas protestou em frente ao prédio da juíza Letícia Drumond, da 2ª Vara Civil, que barrou a reabertura do comércio de Itajubá, pretendido por um decreto do prefeito. Durante o protesto, os manifestantes soltaram fogos de artifício próximo ao prédio da magistrada.

O grupo também passou pelas sedes do Fórum e do Ministério Público. O vereador Renato Moraes (PSDB) foi um dos organizadores da manifestação. Ele publicou um convite em sua rede social pedindo para as pessoas irem ao protesto. Vídeos gravados durante a manifestação mostram o vereador em cima de um veículo da Guarda Municipal puxando grito contra o Ministério Público.

A nota do TJMG, assinada pelo presidente do Tribunal, desembargador Nelson Missias de Morais, informa que providências serão tomadas, se necessárias, para preservar a integridade da juíza.

“O Tribunal de Justiça de Minas Gerais vem a público manifestar seu repúdio aos ataques sofridos pela juíza de Direito Letícia Drumond, da 2ª Vara da Comarca de Itajubá, e informa que já está adotando e tomará todas as providências necessárias para preservar a integridade dela e de todos os demais magistrados, servidores e colaboradores da Comarca”, diz a nota.

O presidente do TMJG ainda coloca que as controvérsias da sociedade devem ser resolvidas no próprio âmbito do judiciário, que oferece a todos os segmentos as opções legais e legítimas para o debate, como a possibilidade de recursos.

“A organização de manifestações públicas intimidatórias, no entanto, é inaceitável, especialmente quando organizadas e incentivadas por agentes públicos”, diz em outro trecho (veja a íntegra da nota mais abaixo).

A OAB local também emitiu nota de repúdio e destacou que diante da “gravidade do ato de alguns membros do Poder Legislativo Municipal em convocar comerciantes e a população, via redes sociais, para manifestações em protesto contra o Ministério Público e o Poder Judiciário, não pode deixar de registrar seu veemente repúdio a esse tipo de comportamento e conclama as instituições civis itajubenses a defenderem os valores democráticos tão caros aos cidadãos”, diz em nota.

ÍNTEGRA DA NOTA DO TJMG:

TJMG repudia ataques a juíza de Itajubá

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais vem a público manifestar seu repúdio aos ataques sofridos pela juíza de Direito Letícia Drumond, da 2ª Vara da Comarca de Itajubá, e informa que já está adotando e tomará todas as providências necessárias para preservar a integridade dela e de todos os demais magistrados, servidores e colaboradores da Comarca.

O Poder Judiciário, guardião da Constituição brasileira, é local adequado para dirimir controvérsias da sociedade e, para isto, oferece a todos os segmentos as opções legais e legítimas para o debate, como a possibilidade de recursos. A organização de manifestações públicas intimidatórias, no entanto, é inaceitável, especialmente quando organizadas e incentivadas por agentes públicos.

Se, por um lado, é compreensível a tensão pública existente em todo o país em função da pandemia do coronavírus, por outro é inadmissível que atos como os realizados em Itajubá sejam utilizados como instrumentos de pressão contra a autoridade judiciária, que deve ser respeitada.

O TJMG adverte aos agentes públicos de todos os poderes do município, bem como as entidades civis e população para se absterem de tais atitudes. O momento exige serenidade, de modo a garantir o restabelecimento da normalidade democrática à vida da cidade.

Belo Horizonte, 14 de maio de 2020.

Desembargador Nelson Missias de Morais

Presidente do TJMG