É preciso ser firme e gentil na educação dos filhos, diz educadora da Disciplina Positiva

Magson Gomes / 03 agosto 2018

Mariana Boschi faz quatro encontros em Pouso Alegre sobre a Disciplina Positiva, uma respeitosa maneira de educar os filhos.

Quando alguém mais velho vê uma criança tomando conta de uma determinada situação, fazendo birra no meio da rua, na loja, na igreja, já vem logo com a reposta: no meu tempo não era assim! Ou, eu fui educado de outra maneira!

Realmente, houve tempos distintos na educação dos filhos. Um período onde as crianças eram tratadas à mão de ferro, com rigidez. No estilo manda quem pode e obedece quem tem juízo. Depois, veio o período de relaxamento das regras. Saiu o autoritarismo e entrou a permissividade. Tudo a criança pode. Os pais diziam que foram criados com muita rigidez e não queriam aquilo para os filhos.

Mas qual seria a maneira correta de educar os filhos e não bloquear suas características e habilidade?

Segundo a pedagoga e educadora Mariana Boschi, o princípio da boa educação é o meio termo entre o autoritarismo e a permissividade. “O autoritarismo é eu mando e você faz do meu jeito. É muita regra, muito controle e pouca liberdade. O estilo de educar permissivo é muita liberdade. Nenhuma regra e o controle está na mão das crianças. E a gente não quer nem um nem outro. A gente quer o meio termo. Por isso a gente fala da firmeza e da gentileza”.

Mariana está em Pouso Alegre para ministrar um workshop sobre a Disciplina Positiva. Uma respeitosa maneira de educar, com grandes efeitos na relação com crianças e adolescentes. Mariana é certificada pela Positive Discipline Association. O próximo encontro do workshop “Educando com gentileza e firmeza” será nesta terça-feira (07) e mais dois nas terças-feiras seguintes.

Pais participam de workshop (Foto: CP-Comunicação)

Mariana falou com o Terra do Mandu sobre esse novo método, que não é tão novo assim. Segundo ela, a teoria existe há cerca de um século. Porém, apenas na década de 80 que uma escritora e psicóloga americana traduziu os livros dos psicólogos austríacos e desenvolveu ferramentas para colocar a Disciplina Positiva em Prática. Aqui no Brasil, não faz nem uma década que essa maneira de educar os filhos ganhou adeptos.

Como ser firme e gentil

A educadora conta que é importante ser firme em benefício e respeito a você mesmo. Porque você tem seus limites, necessidades, crenças e valores para ajudar seus filhos. E é gentil em respeito às crianças que são seres humanos e merecem ser tratadas com dignidade.

Mariana lembra que quando somos tratados com violência, numa situação de hierarquia como patrão e empregado, pais e filhos, somos obrigados a reagir de forma submissa. Quando essa pessoa superior manda você fazer algo, a reação espontânea é de revolta, rebeldia. “A gente faz esse exercício com os pais de pensar nessas relações, posições que você já viveu. Todos esses sentimentos de rebeldia que não vão trazer colaboração. Aí ficha cai”, conta.

A educadora Mariana Boschi é especialista em Disciplina Positiva (Foto: CP-Comunicação)

Segundo Mariana, hoje em dia tem muita informação disponível e o desenvolvimento da neurociência trouxe contribuições para criação das crianças e para a educação nas escolas. Ela lembra que já tem estudos que mostram como o cérebro reage diante de algumas situações. “Diante da agressividade, da violência a gente libera adrenalina e cortisol que faz a gente entrar estado de luta e fuga. Disputa de poder, ver quem ganha. Ou fuga, simplesmente desisto e me coloco na submissão”.

“Os pais têm informação disponível, questionando os modelos antigos de educação, buscando forma mais respeitosa e eficiente para criar os filhos. Vai trazer benefícios no desenvolvimento de características e habilidades de vida que queremos para os filhos”.

Parar de falar não pode ajudar na criação do filho

Uma das coisas mais difíceis de mudar, mas mais poderosas é pensar no tanto que a gente fala não, diz a educadora. É um tanto de ‘Não faz isso’, ‘não faz aquilo’, ‘tira a mão daí’, ‘você não consegue’, ‘você é pequeno’… Esse monte de não pode gerar dois defeitos: “A criança vai se sentindo incapaz, e vai se fechando, achando que não consegue e depois não quer nem tentar. Daí vem os adolescentes folgados que não fazem nada. Mas nunca tiveram chance de praticar. E a outra é a luta de poder. Pode gerar pessoas que querem enfrentar e fazer. Tudo que você fala não, vira inspiração para ela fazer”.

Além disso, quando falamos não, ou qualquer frase que começa no negativo, a tendência do cérebro é registrar só a ação. Se você falar: não pense num cachorro. Primeira coisa que você pensar é num cachorro.

Mariana orienta que, em vez de falar o que não pode fazer, é melhor falar o que pode fazer. Um exemplo que ela dá é ao entrar em um espaço onde a criança não pode botar a mão nas coisas, em vez de dizer ‘não mecha em nada’, pede para a criança colocar as mãos para trás, ou no bolso porque ali tem coisas que quebram. “Se a criança estava rabiscando uma parede, não diz que não pode. Mostre onde ela pode rabiscar, em um papel ou noutra parede. E não bloqueia a criatividade da criança”.

A pedagoga ainda cita outra maneira de trabalhar a Disciplina Positiva que é fazer com que a criança se sinta parte do processo, que tome decisões. E isso pode ser feito através de perguntas, sugestões para deixa-la escolher entre um calçado e outro por exemplo. “Envolva ela na decisão e reflexão da solução. Começa a praticar com pequenas coisas. Pensar em alternativas. Ajudar limpar o que derrubou. Trabalhar forma preventiva e não reativa”.

Sobre Mariana Boschi:

Formada em Pedagogia pela USP, com mais de 15 anos de experiência como professora e coordenadora pedagógica em escolas internacionais e bilíngues. Apaixonada pela primeira infância, participou do Project Zero Institute (Harvard Graduate School of Education), do International Summer School (Reggio Emilia) e, recentemente, do Think Tank em Disciplina Positiva em San Diego. Educadora Certificada pela Positive Discipline Association. Criadora e Diretora Pedagógica do método de ensino de inglês para crianças ChatterBox. Consultora educacional, formadora de professores e educadora parental.

Sobre o workshop:

O workshop será realizado no espaço de eventos Brinquedoteka, na rua Manoelita de Barros

Cobra Oliveira, 75. Os interessados podem entrar em contato pelo email

contato.reconecta@gmail.com ou telefone (11) 98755-1017. As inscrições devem ser feitas

antecipadamente. O investimento para os quatro encontros é de 240,00 (individual) ou R$

400,00 (casal). Há a opção de participar de apenas alguns dos encontros, com investimento,

por evento, de R$ 75,00 (individual) ou R$ 125,00 (casal).


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