Família de macacos Bugio volta a ser avistada em parque da região
Registro feito no Parque Estadual Nova Baden, em Lambari, entusiasmou biólogos e visitantes, já que a espécie não era vista desde 2017
Iago Almeida / 23 novembro 2023Registro feito no Parque Estadual Nova Baden, em Lambari, entusiasmou biólogos e visitantes, já que a espécie não era vista desde 2017
Iago Almeida / 23 novembro 2023Uma família de macacos bugio (Alouatta guariba) foi avistada na última semana na área do Parque Estadual Nova Baden, em Lambari, no Sul de Minas. O registro entusiasmou biólogos e visitantes do local, já que a espécie não era vista desde meados de 2017, quando ocorreu um surto de febre amarela.
Os animais foram fotografados na porção da Serra das Águas pelo advogado e graduando em biologia, Guilherme Brandão. Ele conta que gosta de realizar o percurso das trilhas da Unidade de Conservação bem cedo para aproveitar o alvorecer e observar os pássaros.
“Fui surpreendido por um breve ronco e, ao apontar a câmera fotográfica para o alto das araucárias, vi esse grupo de primatas. Rapidamente, observei que não se tratavam dos macacos-pregos habitualmente vistos. Eram os bugios, retornando ao habitat natural da Mata Atlântica”, conta.
Rogério Grassetto, primatólogo, professor na Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) e conselheiro do Parque Estadual Nova Baden, ressalta que o bugio está na categoria “Vulnerável”, tanto na lista da The International Union for Conservation of Nature (IUCN), quanto nas listas brasileira e mineira de animais ameaçados de extinção. Ele explica que esses animais não são responsáveis pela transmissão da febre amarela.
“Ele é extremamente sensível à doença e houve uma mortandade generalizada em muitos locais. Infelizmente, isso foi acompanhado por algumas mortes de humanos e acreditava-se que os bugios estavam trazendo a febre amarela. Mas, na verdade, esses primatas apenas sofrem com a doença. Eles não são migratórios e são fiéis à sua área de vida. Então, quem traz a febre amarela são os humanos para eles”, explica.
O especialista explica ainda que os animais são vegetarianos, com alimentação a base de folhas e frutas. Portanto, os visitantes do parque não devem dar qualquer tipo de comida a eles, justamente para evitar a transmissão de doenças, entre as quais a febre amarela.
A bióloga Evânia Santana, analista ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e gerente do Parque Nova Baden, reforça a participação de visitantes e estudantes no monitoramento ambiental e na divulgação da ciência. “A vulnerabilidade dos bugios à febre amarela é um reforço para que as pessoas se sensibilizem para a vacinação e contribuam para a proteção da fauna silvestre”, pontua.
O som emitido pela espécie é muito característico e extremamente potente. “Quando os bugios diminuem muito de densidade, não ouvimos o ronco deles. Eles têm uma vocalização muito alta, que chega a atingir mais de 90 decibéis e pode ser ouvida a até 2 quilômetros de distância. Eles têm um pequeno osso na garganta que ajuda a amplificar esse som”, conta o primatólogo.
Rogério explica ainda que quando eles não estão emitindo esse ronco, fica difícil localizar esses animais, já que eles se deslocam pouco e lentamente. “Eles descansam boa parte do dia por conta de sua dieta baixa em calorias. A maior parte dos indivíduos são amarronzados e, quando estão descansando, fica difícil vê-los. Esse registro do bando é uma excelente notícia”, avalia.
O Parque Estadual Nova Baden, Unidade de Conservação gerida pelo IEF, está situado na Serra das Águas de Lambari, parte da Serra da Mantiqueira. Encontra-se inserido na sub-bacia do Ribeirão do Melo, na bacia hidrográfica do Rio Grande. A área foi protegida em 1974, com a criação da Reserva Biológica de Nova Baden, sendo alterada sua categoria de manejo para Parque em 27 de setembro de 1994. Em 2024, o parque completará seus 30 anos de criação e já se prepara para as comemorações.
A região possui rica diversidade de espécies de répteis, mamíferos, aves, anfíbios e insetos. Uma nova espécie de percevejo foi identificada, recentemente, em um local muito úmido. Em homenagem ao parque, a espécie recebeu o nome de Pachymeroceroides novabadensis. Devido à sua grande diversidade de espécies, o parque é um local apropriado para observação de aves.
A vegetação da Mata Atlântica está em excelente estado de conservação e pode ser apreciada pelo belo cenário formado por jacarandás, jequitibás, quaresmeiras, cedros, araucárias (pinheiro brasileiro), musgos, liquens, bromélias, perobas, palmitos-juçara e orquídeas.
O nome do Parque é uma referência à cidade de Baden-Baden na Alemanha, sobre a qual Américo Werneck se inspirou para as benfeitorias na Estância Hidromineral de Lambari. Werneck era descendente de alemães e foi o primeiro prefeito de Lambari, além de proprietário da antiga Fazenda Pinheiros, atual sede do Parque Estadual Nova Baden. Pioneiro em questões ambientais, ele era fruticultor e desenvolveu vários projetos de aproveitamento racional das estâncias hidrominerais.
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