Gente do Mandu

Filho mantém paixão do pai por locomotivas e ferrovia no quintal de casa

Daniel Paiva cuida de linha férrea e trens que ficam na casa em Pouso Alegre. O pai, Tarcísio, era bancário e criou a própria locomotiva e ferrovia.

Nayara Andery / 28 junho 2023

Dizem que mineiro não perde o trem. Um mineiro de Pouso Alegre, no sul do estado, resolveu ir além. Apaixonado pelas ferrovias, ele construiu no quintal de casa uma linha férrea e duas locomotivas, com vagões e tudo. Claro que em miniatura. Mas tudo funcionando, perfeitamente.

O circuito ferroviário foi criado pelo bancário aposentado, Tarcísio Silva Santos. Foram mais de 40 anos de dedicação, comprando, construindo e montando peça por peça. Desde o motor, cabine das locomotivas, vagões e bancos, a instalação dos dormentes para formar 70 metros de linha, com direito a toda sinalização e até pátio de manobra.

O aposentado faleceu em junho de 2020, aos 85 anos. Hoje, o filho Daniel Paiva, que já acompanhava o pai nessa paixão, é quem cuida da ferrovia da família.

A linha férrea foi feita no quintal em 1979. Daniel tinha um ano nessa época e cresceu com o mesmo amor do pai pelos trens e ajudava o pai a cuidar dessas máquinas e ferrovia. E 44 anos depois, todo o circuito funciona ‘a todo vapor’.

Tarcísio, um apaixonado por ferrovias

Aposentado também adquiriu locomotiva ‘de verdade’, que fica no quintal

Em 2016, o aposentado realizou um dos últimos desejos. Ele adquiriu uma locomotiva a vapor, fabricada na Inglaterra, em 1914. A máquina foi usada em usinas de cana-de-açúcar em Pernambuco e, comprada em sucata por um restaurador do interior de São Paulo.

O bancário aposentado investiu cerca de R$ 100 mil para ter a locomotiva no quintal de casa, no bairro Fátima, em Pouso Alegre. No último domingo (24/06), o filho Daniel ligou a locomotiva, como uma homenagem ao pai que faria, naquele dia, 88 anos.

A máquina de quase 110 anos pesa dez toneladas. O filho conta que nos últimos três anos o veículo recebeu melhorias e a caldeira agora volta a manter o funcionamento. Desde que Tarcísio morreu a locomotiva centenária a vapor ficou ‘adormecida’. Mas, sempre com a manutenção em dia, feita pelo Daniel.

“A gente foi tomando gosto, foi passando de pai para filho e a gente vai ajudando e fazendo aos poucos também, criando outros trens e ampliando a linha. ” Nessa família, o amor pelos trens corre nas veias assim como as locomotivas que correm pelos trilhos.

Amor nos trilhos

São três gerações de amor pelo universo dos ‘trilhos’ nessa família. Daniel lembra que o avô, João Silva Santos Júnior, era chefe da estação ferroviária em Pouso Alegre. “Meu pai ficava sempre nos trens, andava nas máquinas a vapor. A última vontade dele era comprar uma locomotiva a vapor e ele conseguiu”.

Em uma entrevista em 2017 ao Terra do Mandu, correspondente do Estado de Minas, Tarcísio lembrava com saudosismo o tempo em que ia com o pai até a estação de trem em Pouso Alegre. “Passeava no trem, que naquela época era só a vapor. Não existia outro meio de transporte, era só ferrovia mesmo. ”

Ele se formou em direito, fez carreira como bancário e nos últimos 45 anos dedicou o tempo livre ao amor pelos trens. Em quatro décadas, são duas locomotivas artesanais fabricadas, que funcionam a diesel e seus vagões, a linha férrea com 70 metros de comprimento, além da locomotiva inglesa e uma prancha de carga. Seu Tarcísio dizia que era mais um pátio para manobras do que uma linha.

“Sou amante de ferrovia, meio fanático. Depois de casado e com o nascimento do casal de filhos, quis montar um trem para as crianças brincarem”, disse à época ao Terra do Mandu. Ou seria para ele mesmo?


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