Confundir a realidade com a imaginação, ouvir vozes, delirar e até mesmo ter surtos psicóticos. Assim vivem muitas pessoas que têm esquizofrenia. Esse transtorno mental grave atinge cerca de 1,6 milhão de brasileiros. É o caso de Gustavo Couto que tem 24 anos e mora em Pouso Alegre.
O Dia Mundial da Pessoa com esquizofrenia é 24 de maio. O objetivo é conscientizar sobre sintomas, tratamentos e debater o tema. A Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca que esse transtorno é a terceira maior causa de perda de qualidade de vida entre jovens.
“A esquizofrenia afeta cerca de uma a cada 100 pessoas no mundo. Temos visto o aumento mais crescente decorrente do uso de drogas, principalmente a cannabis (maconha), que é a que mais se associa ao risco de surto psicótico”, cita a psiquiatra Fernanda Gonçalves.
Como vive a pessoa com esquizofrenia
Nem sempre esse transtorno mental é detectado cedo, como foi o caso de Gustavo. A mãe dele, Renata Couto, conta que ele só foi diagnosticado aos 20 anos, mas a esquizofrenia foi confundida com sintomas do uso de drogas.
“Na pandemia ele estava em casa comigo. Ele não saia, não usava drogas de forma alguma e teve surtos psicóticos. Dói para uma mãe ter que internar o próprio filho, mas ele colocou a vida dele e das pessoas da família em risco várias vezes.”
Renata estava em tratamento de câncer quando Gustavo foi internado. Renata fez uma cirurgia, quando a mãe dela faleceu e Gustavo teve um novo surto. “Meu filho estava há alguns meses na clínica de reabilitação e teve um surto. O médico que acompanhava ele por um longo período me ligou e disse que o Gustavo tinha esquizofrenia. O surto nessa época foi desencadeado pela morte da avó.”
Após o diagnóstico, Gustavo começou o tratamento. “A medicação e o cuidado são necessários, bem como um atendimento médico de qualidade. Mesmo assim meu filho tem surtos psicóticos e já se automutilou, agrediu as pessoas da família”, conta Renata.
Ela, o marido e os outros três filhos fazem todo o possível para ele ter qualidade de vida. Até os 24 anos Gustavo era tratado na rede particular, mas como ela perdeu o convênio médico, chegou a recorrer ao sistema público. Hoje a família tem dificuldades financeiras para manter Gustavo internado em uma clínica de reabilitação preparada para acolher pacientes com transtornos mentais.
A psiquiatra destaca que “quando a esquizofrenia não é tratada pode ter uma evolução muito desfavorável. Por isso a importância de conscientizarmos a população sobre como detectar, como ajudar nesses casos”. O tratamento é ofertado pela rede pública, conforme diretrizes nacionais para garantir direitos básicos à população. Na rede particular é possível encontrar médicos e rede de apoio.
O tratamento passa por psiquiatras, psicólogos e pode contar com outros profissionais e rede de apoio. A ajuda é necessária para os pacientes e também para os familiares que enfrentam com eles, as dificuldades da rotina da esquizofrenia.
Perfil da esquizofrenia
“A doença é mais comum nos homens, principalmente entre 16 e 23 anos. Em mulheres é mais bimodal e pode surgir entre 27 aos 32 anos e posteriormente dos 37 aos 43 anos”, detalha Fernanda. A psiquiatra lembra que é importante detectar o transtorno precocemente.
A esquizofrenia não tem cura, mas tem tratamento. De acordo com a OMS, o paciente esquizofrênico tem distorções no pensamento, percepção, emoções, linguagem, consciência do “eu” e comportamento. A psicose se manifesta com “alucinações (ouvir, ver ou sentir coisas que não existem) e delírios (falsas crenças ou suspeitas firmemente mantidas mesmo quando há provas que mostram o contrário).”