Beatriz Juventino é uma das cinco motoristas de transporte coletivo em Pouso Alegre. Ela dá o toque feminino nos detalhes, em uma profissão ocupada na maioria das vezes por homens. Batom, brincos e capa do banco e do cinto de segurança personalizadas ilustram a vaidade e cuidado no trabalho. “O povo gosta, elogia. Ontem falaram que honra pegar um ônibus no dia das mulheres com uma mulher.”
Ao iniciar a rota ela detalha que “coloco o itinerário, agora vou para o Centro e Parque Real. Faço a linha do Faisqueira. A nossa atenção maior é o trânsito, passageiro, tomar cuidado com as portas para não apertar eles, ter que cobrar (a passagem).”
Elas ainda representam um 5% dos 111 motoristas de transporte coletivo em Pouso Alegre. Camila Alves é motorista de veículos pesados há dez anos, quando começou em auto escola. Ela trabalhou no transporte escolar e há um ano é motorista da Expresso Planalto. “Tem o preconceito, mas eu gosto desse trabalho.”
A paixão por esse trabalho é unanimidade entre elas. A ex-caminhoneira Beatriz fala que ama trabalhar como motorista de transporte coletivo. Ana Cláudia Pereira saiu do setor de logística para ingressar nessa empresa há um ano e meio, como o primeiro emprego de motorista. Esse também é o primeiro trabalho de Thatiane de Oliveira, que é motorista na viação há três anos. “Quero que esse seja o meu trabalho para o resto da minha vida.”
Viralizar a profissão
As amigas chamam Beatriz de rainha do Tik Tok, por ela postar vídeos onde mostra a rotina como motorista. O perfil criado há um mês tem 7 mil seguidores. “Postei um vídeo meu dirigindo e o pessoal gostou e eu continuei. No transporte de carga tem bastante mulher, mas no coletivo não. Muitos homens não têm a paciência que nós temos, porque é difícil.”
Rotina com situações inusitadas e preconceito
Para as motoristas a dificuldade é enfrentar o preconceito e o desrespeito no trânsito. “Lugar de mulher é onde ela quiser”, enfatiza Camila. “Na rua, os carros não dão preferência para o ônibus, ao chegar no cruzamento se você não apertar, não passa. Pedestres veem o ônibus e entram na faixa devagar olhando para você.” Beatriz acrescenta que “tem que dar com a mão senão o pessoal não segura. Mesmo dando seta eles vêm na lateral nossa.”
O trabalho de Camila começa ao sair com o ônibus da garagem às 5h. Ela lembra que nas linhas menores se conhece o passageiro pelo nome e já ganhou até café da manhã e mais presentes. Ao substituir um motorista da linha rural, “um senhor entrou com uma abóbora de cerca de 40 kg e achou que era o outro motorista. Ele perguntou cadê o motorista? Eu respondi que vim fazer a linha porque ele faltou. O senhor disse, leva a abóbora para você mesma.”
Ana Cláudia já foi surpreendida de outra forma. “Essa semana eu estava almoçando e uma passageira falou que estava fazendo um abaixo assinado para eu voltar para a linha do bairro deles. Isso é gratificante. Tem uns que criticam mulher ao volante, mas a maioria agrada a gente.”
Ampliar número de mulheres como motoristas
O gerente geral da Planalto, Victor Del Penho, comenta que as mulheres se destacam no cuidado com a direção, passageiros e veículo. “Tem passageiro que liga para a ouvidoria para elogiar elas, o atendimento. A nossa intenção é sempre expandir a contratação de mulheres. Elas representam 5% dos motoristas e 12% do total da empresa. Divulgamos vagas tentando atrair mais mulheres para a equipe.”
Passageiros gostam delas como motoristas. “Elas tratam a gente muito bem. Tem horas que precisamos de abrirem a porta do meio para a gente sair com a compra e elas vão contentes e alegres”, cita Maria José Magalhães. Alzira Magalhães conta que “às vezes uma mulher trata melhor o outro. São muito agradáveis.”
Adenilton Cavalcanti é motorista há nove meses e gosta do trabalho das colegas de profissão. “É a primeira vez que trabalho com coletivo e ter mulheres como essas profissionais é uma beleza, amizade e a gente fica impressionado com elas, são guerreiras. Tem muito cuidado no trânsito, às vezes nos ensinam a dirigir.”