Homem escravizado por 38 anos é resgatado em fazenda no Sul de Minas
João Ribeiro era mantido em instalações insalubres em Bueno Brandão, trabalhava para receber as refeições e não tinha documento nenhum
Iago Almeida / 07 março 2023João Ribeiro era mantido em instalações insalubres em Bueno Brandão, trabalhava para receber as refeições e não tinha documento nenhum
Iago Almeida / 07 março 2023Aos 74 anos, João Ribeiro foi resgatado de condições análogas à escravidão na fazenda de café Boa Vista, em Bueno Brandão, no sul de Minas Gerais. O caso foi mostrado no último domingo (05/03) durante o programa Fantástico, na Rede Globo.
O resgate aconteceu no fim de janeiro deste ano, após as irregularidades serem constatadas entre os dias 24 e 30, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Foram 38 anos vivendo em condições de trabalho análogas à escravidão na propriedade.
O idoso não tinha documentação, vivia em instalações insalubres, trabalhava para receber as refeições e o caso foi descoberto após ele pedir atendimento em um hospital. Agora, João vive em um lar de idosos e disse que quer esquecer tudo que passou.
De acordo com o MTE, o idoso era mantido em uma casa rústica e que tinha a iluminação precária, falta de higiene, sem portas. Ele dormia sobre uma espuma velha de colchão que já estava encardida, consumia água diretamente da torneira e trabalhava para receber as refeições diárias, sem nenhuma remuneração financeira.
Ao longo dos 40 anos, o idoso contou que foi levado ao médico apenas duas vezes, pelo proprietário da fazenda. Na fazenda, ele capinava pastos, cultivava café e ainda fazia muitas outras atividades.
Na casa não tinha geladeira, televisão, rádio, praticamente nada. A cozinha estava completamente suja. O único dinheiro encontrado com o idoso era um punhado de notas antigas do Brasil, como o cruzeiro.
O empregador contou ao MTE que João chegou à fazenda em 1984, perdido e procurando um trabalho. E foi ali na fazenda que ele passou mais de 38 anos vivendo em condições degradantes, trabalhando sem salário registrado.
Funcionários da Saúde afirmaram ainda que ele é um paciente diabético e hipertenso e não fazia uso das medicações necessários para o tratamento. A vacinação do idoso também foi providenciada; ele não tinha nenhuma vacina aplicada.
Os auditores, durante a operação de resgate, ainda constataram que o homem não tinha documentos de identificação e registro de vínculo empregatício em carteira de trabalho. Com isso, ele não poderia aposentar, pois nunca houve recolhimento de contribuições junto à Previdência Social.
Um dos defensores públicos que acompanhava a operação tratou de providenciar que o homem pudesse adquirir certidão de nascimento, carteira de identidade e CPF. No dia 27 de fevereiro, ele recebeu as verbas rescisórias do antigo patrão.
Segundo a reportagem do Fantástico, o homem só foi descoberto quando foi atendido no final de 2022, quando foi levado ao hospital com suspeita de pneumonia. Na unidade de saúde, profissionais verificaram que ele não tinha documento nenhum.
Desconfiando da situação, a equipe acionou a Assistência Social do município, que fez a denúncia ao Ministério do Trabalho e Emprego. Quando os auditores foram até a fazenda, encontraram João em meio ao seu trabalho, descalço.
Como todo e qualquer empregador nesta situação, o proprietário da fazenda de Bueno Brandão afirmou que João, com o tempo, “tornou-se parte da família”.
A reportagem do Terra do Mandu entrou em contato com a Assistência Social de Bueno Brandão, que informou que não poderia dar entrevistas, pois o caso segue em segredo de justiça.
E o caso é preocupante, principalmente porque em 2022, 2,5 mil pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão. Só nos dois primeiros meses de 2023, já foram 523. Desse total, mais 12 trabalhadores foram resgatados no Sul de Minas, sendo 10 em Santa Rita do Sapucaí e 02 em Campanha.
1
2
3
4
5
Copyright © 2022 Terra do Mandu. All Rights Reserved by Terra do Mandu