Produção de morango no Sul de Minas deve chegar a 150 mil toneladas

Pouso Alegre e mais 24 municípios formam a maior região produtora de morango do Brasil

Nayara Andery / 15 julho 2022

Edney Ribeiro e o irmão têm 30 mil pés de morango no bairro Serrinha, zona rural de Pouso Alegre. Ele trabalha com esse fruto desde os 8 anos de idade. “A gente plantava no chão. Com a tecnologia avançando, foi dificultando a produção no chão, as terras ficavam com doenças nematoide e fungo, aí implementamos esse plano de cultivo (estufa)”.

Ele está entre os cerca de 8 mil produtores do fruto na região e migrou para a estufa há quatro anos. Esse ambiente protege as plantas dos efeitos de chuvas de granizo e geada, além de manter a umidade ideal para o fruto. Os 18 mil pés do fruto ficam em linhas suspensas que reduzem o esforço na colheita e melhoram a produtividade.

O investimento na estrutura que abriga a área de plantio dele custou cerca de R$ 200 mil, há quatro anos. Para o agricultor, “vale a pena. O investimento inicial fica caro, mas, para manter fica bem mais barato e prático”.

E tem mais benefícios nesse formato de cultivo. “Ajuda na saúde, que a gente o uso de agrotóxico é quase zero. E na colheita no chão era dor nas costas, coluna, tudo prejudica e aqui a gente colhe em pé, é bem mais tranquilo. Todo ano a gente trabalha na mesma área e no chão tinha que ficar trocando de área.”

Riqueza vermelha: Sul de Minas tem maior produção do fruto no país

Pouso Alegre e mais 24 municípios formam a maior região produtora de morango do Brasil. A safra 2022 estimada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-MG) é de cerca de 150 mil toneladas.

Entre os maiores produtores por área na região estão Bom Repouso (540 ha), Espírito Santo do Dourado (465 ha), Estiva (370 ha), Senador Amaral (320 ha) e Pouso Alegre (250 ha).

“Pouso Alegre foi o primeiro produtor e está hoje na ordem de 50 a 52 toneladas por hectare de produção”, destaca o extensionista agropecuário da Emater, José Abílio de Oliveira Filho.

Importância vai além da economia

O cultivo do morango é uma importante fatia da economia regional. Um exemplo do extensionista da Emater é que há 50 anos o distrito de São José do Pantano, em Pouso Alegre, dependia das culturas de leite, feijão e milho e há décadas o morango mudou esse cenário.

“A importância econômica para o local, comunidade, município, é muito grande. É um dos maiores geradores de renda. Se fizermos o PIB per capto se vê que o morango e o hortifrutigranjeiro é muito grande no estado e em Pouso Alegre.”

Os frutos surgem após 45 dias do plantio e a colheita é feita toda semana. Em um ano, cada pé produz 1 kg do fruto. Cada bandeja vendida por até 8,99 em supermercados de Pouso Alegre sai da produção por cerca de R$ 3,50, sendo que só a embalagem custa em média R$ 0,40. Para os produtores, a diferença entre o valor pago pelo consumidor e o que eles recebem é muito grande.

Agricultura familiar

Agricultores familiares representam 90% da produção de morangos na região. Um exemplo é João Batista de Faria, que trabalha nessa cultura há 15 anos. Ele e mais quatro pessoas da família cultiva o fruto às margens da MG-173, em Cachoeira de Minas.

Na própria rodovia a família vende cada caixa com quatro bandejas do fruto por R$ 15. “Mais da metade eu vendo aqui mesmo na rodovia e o restante eu mando para a fábrica.”

Metade da produção de morango de João é vendida às margens da MG-173, em Cachoeira de Minas.

O que tem dificultado o trabalho dos agricultores são os valores de produção e de venda. “O valor dos insumos aumentou bastante, dobrou o preço. E o morango continua o mesmo preço do ano passado”, explica João.

Edney concorda que “o maior desafio é a alta dos custos, porque aumentou muito o custo de produção. O preço (de venda) esse ano está melhor, mas, a gente sabe que quando aumentar a produção vai cair bastante”.

Esse cenário tem levado alguns produtores a procurarem outro setor. João tem incertezas sobre o casal de filhos seguir a mesma profissão dele no futuro. “Eu não sei, eu não queria não. Roça é muito sofrido.”

Soluções para continuidade desse cultivo

Melhorar a valorização de mercado, capacitar produtores e inovar na produção podem ser a solução para incentivar quem trabalha nesse setor, assegura o extensionista da Emater. “A inovação tem como um exemplo o ambiente protegido que pode ser feito em estufa ou túneis baixos.”

Ele destaca que na inovação estão presentes fatores como irrigações regulares em tempo e quantidade por cultivar, “uso de insumos como produtos biológicos, baixo uso de agrotóxicos”, entre outros.

Até o consumidor pode ter um importante papel para ajudar a cultura do morango a ter continuidade no Sul de Minas. Para Abílio, ao comprar é preciso ter consciência que descontos não pode ser concedidos, pelo alto custo de produção. “É preciso que o consumidor tenha consciência disso, mas também cobre qualidade do produto” ao comprar em supermercados ou comércio.

O morango é a renda principal de grande parte dos agricultores da região. “A gente depende do morango que o nosso investimento é todo em torno dele e se um dia não compensar mais, teríamos que fazer outro investimento e mudar o cultivo. É daqui que sai o nosso sustento.”

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