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Artista plástico Prado Neto deixa arte na rua para quem quiser levar

Projeto 'Pega lá que é seu' foi criado em 2015 e o artista conta que ele já contribuiu para mudanças na vida de quem encontrou peças

Iago Almeida / 10 junho 2022

“Arte é fazer aflorar aquilo que está dentro de nós”! Com esse pensamento, o artista sul-mineiro Prado Neto iniciou um projeto, ainda em 2015, que foi nomeado ‘Pega lá que é seu’. Nele, o artista cria, escolhe um local, deposita seu trabalho depois de pronto e ajuda alguém, que o encontrar, também de uma maneira sentimental.

O artista mora atualmente em Pouso Alegre, mas deixa peças também em outras cidades da região. E ele utiliza material reciclável para criar as artes, o que torna o trabalho ainda mais gratificante. Para ele, o objetivo também é atingir um bom número de pessoas.

“Eu percebei que muitas pessoas tinham esse desejo de possuir uma arte. Pessoas às vezes que eu conversava no dia a dia, amigos que tinham esse desejo de ter uma obra de arte, mas não tinham condições de comprar. E foi aí que nasceu essa ideia, de pegar esses materiais que são descartados na rua, como garrafas, madeira, e devolver esses materiais para a rua de forma poética. Essa é a intenção desse projeto, poder promover a sustentabilidade e beneficiar o maior número de pessoas”, conta Prado Neto.

Vidas transformadas com o projeto

Depois que deixa a arte em algum canto, Prado aguarda que quem a encontrar possa entrar em contato com ele pelas redes sociais, para uma interação com o artista. Além disso, ele conta que seu trabalho já contribuiu para mudanças na vida de quem o encontrou e levou para acrescentar à própria casa.

“Já tive muitas experiências, já ouvi muitas histórias através dessas artes. Inclusive teve uma pessoa que estava passando por um momento de muita dificuldade e encontrou uma, onde estava escrito: ‘não desista, alguém se inspira em você’. E ela me mandou uma mensagem depois dando um depoimento da vida dela. Eu fiquei muito contente em saber que a arte tem essa capacidade de transformar vidas”, enfatiza o artista.

Contemplada duas vezes

Enquanto muitas pessoas ficam na expectativa de novas artes serem deixadas nas ruas para enfim poderem pegar, outras conseguiram levar para casa mais de uma peça. É o que conta a engenheira de produção Ana Thaís Pereira Scodeler, moradora de Pouso Alegre. “Eu tive a honra de ser contemplada, de estar no lugar certo, na hora certa, por duas vezes”, afirma.

Ana Thaís contou que no dia em que conseguiu pegar a primeira peça teve um pouco de sorte. Ela ainda estava despertando pela manhã quando viu que o artista havia anunciado uma nova obra nas ruas, pelas redes sociais. Ela então chamou o marido, pois estava desconfiada onde era o local. Foi aí que ela conseguiu pegar a tempo uma peça de Prado.

“Eu sou admiradora do trabalho dele, um trabalho feito de material sustentável. Além de ser uma obra de arte linda, ainda está contribuindo para o meio ambiente. Eu não vou pegar mais porque eu quero dar oportunidade de outras pessoas pegarem e conhecerem sobre esse projeto lindo. O que eu acho bacana é isso, ele mostrar sua arte e também presentear pessoas que não tem condições de poder comprar uma obra dele”, enfatiza a engenheira.

Paixão e conhecimento internacional

Prado Neto se diz apaixonado pela arte. Diante de toda expressividade que ela proporciona, o artista se empenha para chegar onde jamais imaginou poder estar. “Sou apaixonado pela arte já há mais de 20 anos. Sou autodidata e tudo que eu aprendi foi através de revistas, blogs e amigos artistas que me passaram muito conhecimento. E hoje eu venho desenvolvendo muitos trabalhos com pintura em acrílica, em telas, desenvolvendo também murais de rua e trabalho sustentável”, conta.

E não é só em Pouso Alegre que a arte dele se espalha; ela já cruzou fronteiras e é conhecida até internacionalmente, com exposições na Índia e na Inglaterra. “Essas experiências me tornaram um pouco mais humano”, destaca.

Hoje, o artista afirma que procura retratar em seus trabalhos, pessoas que não têm voz na sociedade. E através de sua arte ele consegue torna-las vistas. Ouvindo as pessoas, vendo experiências e conhecendo histórias, ele espera que esse legado seja sempre lembrado e que possa ser exemplo para tantos outros artistas.

“Pra mim a arte é fazer aflorar aquilo que está dentro de nós. As histórias que vão vindo eu tento ilustrar elas nos murais de rua. A maioria deles eu tento não deixar muito colorido ou até mesmo preparar o fundo, porque a proposta da arte é essa, pegar o caos, um lugar onde não tem nada, e tentar deixar a imagem, deixar uma ilustração que ela vai dando a voz que está dentro de nós. E a arte vem para tentar trazer essas cores para alegrar o nosso dia a dia”, encerra.

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