Neste sábado, dia 02 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. E a data será comemorada em Camanducaia, no Sul de Minas, com o 1° Seminário Autismo: Quando você se envolve as peças se encaixam! Dentro do seminário acontecerá o lançamento do livro “Maternidade Autista”, na Escola de Música Carlito Martins. A autora do livro é Jamila Iara, mãe do pequeno Matheus, portador de autismo, hoje com 8 anos.
Jamila, que é servidora pública municipal, diz que sempre gostou de escrever, mas lhe faltava um propósito. “Então, em 2013 Deus me deu esse propósito, que foi o Matheus”, explica. Jamila criou uma página na internet e começou a contar suas experiências com o filho. A página alcançou milhares de seguidores e agora, toda vivência como mãe de uma criança autista está nesse livro, de 310 páginas.
“Matheus veio para dar vida ao meu sonho e me ensinar o quanto a vida é rica em detalhes, que eu jamais compreenderia se não fosse a mãe do Matheus”, conta Jamila Iara. “A conscientização é o melhor caminho que nós temos, porque o preconceito ainda é muito gigante. O preconceito é mais desafiador do que a própria deficiência, como um todo”, afirma a mãe da criança autista.
O 1º seminário sobre o autismo em Camanducaia foi idealizado depois que Jamila ter participado, em 2019, das ações do Coletivo Brilho Azul, em Pouso Alegre, que reúne familiares e especialistas no engajamento da conscientização sobre o autismo. Foi neste evento que a mãe sentiu fazer parte de um todo, sendo acolhida por mais pessoas que vivem a mesma realidade que a dela.
História da mãe e do filho
Matheus foi diagnosticado com Autismo com 1 ano e 9 meses. A mãe conta que foi percebendo aos poucos que o garoto apresentava reações diferentes da irmã, o que despertou nela a dúvida se seria Autismo ou surdez.
“Quando o Matheus comentou um ano e dois meses eu percebi que ele era diferente da irmã, ele ainda não falava, não manifestava interesse em permanecer perto, inclusive de mim que era a mãe. Se eu saísse de perto ele não se importava. Demonstrava interesse restrito por brinquedos de polícias que na época eu não sabia que era o seu hiperfoco e o qual foi utilizado para o seu desenvolvimento. Consegui me conectar com ele e ouvir mamãe aos sete anos através da utilização de figuras e brinquedos de polícia e assim consegui me aproximar dele”, disse.
Jamile conta que demorou seis meses para aceitar a realidade, vivendo nesse período entre a dúvida, a negação e o medo em procurar ajuda de um especialista.
“Eu demorei seis meses entre a dúvida, a negação e o medo em procurar ajuda de um especialista. Ninguém está preparado para ter um filho com deficiência. Existe um abismo gigante entre a família atípica e a sociedade e muito por falta de conhecimento. Não tem uma família que não passe pelo impacto do diagnóstico, faz parte do processo de aceitação e de compreensão na construção de um novo olhar de vida”, afirmou.
“Mateus apresentava estereotipias movimentos repetitivos auto destrutivos ao bater os pés no chão e se deixar 24 horas por dia foi o meu maior desafio porque eu compreendia que aquilo lhe permitia encontrar mais eu não queria o ver machucado. Quando aceitei levar o Matheus ao médico, e começamos as intervenções necessárias. Cada segundo era valioso, quando compreendi que o meu filho era muito peculiar, particular e único tracei uma meta de desenvolvimento!”, completou.
Não há cura para o autismo, mas as atuais formas de tratamento evidenciam a possibilidade de bom prognóstico. A mãe aconselha a procura por ajuda e a aceitação para que a interação possa ser melhor trabalhada.
“As terapias são difíceis o acesso, o investimento é muito alto. A maioria dos pais não pode custear e não temos acesso a todas terapias necessárias , a demanda do SUS é gigante! A maioria das mães se tornam mães solos, não é uma regra existe as exceções mais é a realidade de inúmeras e milhares mundo a fora! Quando vem os desafios da deficiência muitos relacionamentos se esquivam. O Autismo é um mundo extremamente complexo, silencioso e de difícil acesso é preciso muita paciência, amor e força de vontade para acessar”, citou Jamile.
A semente da inclusão e conhecimento foi lançada em Camanducaia, mas espera-se que ela se espalhe por mais municípios da região, mostrando que o lugar do autista é onde ele quiser.
“Formando o livro Maternidade Autista. E assim eu escrevi 310 páginas, que quer acolher principalmente as famílias e pessoas com autismo, ensinando essas pessoas a agirem por si sendo voz delas enquanto a delas não ecoam. Mas quando nós não estivermos mais aqui, o mundo seja mais possível, mais inclusivo e que todas as leis sejam garantidas, porque apenas queremos que nossos filhos sejam felizes ao seu jeito e alcance os sonhos que lhe couberem”, encerrou.