Silvianópolis é uma cidade do Sul de Minas com mais de 6 mil habitantes e o que tirou o sossego típico do local foram listas de críticas a moradores. Três listas compartilhadas em redes sociais citam a maioria das famílias da cidade com adjetivos pejorativos. Cada uma traz nomes de pessoas vivas ou mortas, com referências e o adjetivo mais comum é chato ou chata. Prefeitura, Câmara de Vereadores e Ordem dos Advogados do Brasil divulgaram Nota de Repúdio sobre as listas e pretendem acionar Ministério Público.
Nas ruas, a maioria das pessoas considera as listas ofensivas, mas, há os que levaram na brincadeira. Os termos chato, insuportável, enxerida, macabra, brega, fofoqueiro, louca, acumulador e outros, são atribuídos a homens e mulheres, desde crianças a idosos e até falecidos. Um morador conhecido na cidade foi citado “in memorian”, mesmo estando vivo.
De brincadeira a assunto levado a sério
É raro encontrar quem não foi citado ou conheça alguém que teve o nome divulgado nas listas que surgiram no fim de janeiro. A reportagem quis saber a opinião dos moradores. “Eu achei uma coisa de mau gosto, de quem não tem o que fazer”, cita Fernanda Paula. “Cada um pensa de um jeito. Tem gente que ficou muito bravo”. A amiga Loana da Silva acrescenta, “eu não gostei muito não”.
Para Ana Eulália Borges, que nasceu e criou a família em Silvianópolis, o que aconteceu é “uma falta de respeito com as pessoas”. Ela considera que um dos pontos mais negativos é a citação de falecidos. “Acho que quem se dispõe a fazer isso (lista), deve ser uma pessoa desocupada, se foi uma pessoa só.” “Meu marido tá na lista, ele achou graça, riu, nem aí. Já a minha filha que nem aqui mora, ela ficou chateada.” Depois de conversar com a filha, o assunto virou brincadeira na família.
Tem muitas pessoas que pensam no quanto essa possível “brincadeira” pode ter afetado pessoas da cidade. “Eu acho que não devia brincar com uma coisa tão séria, acho que magoa as pessoas, na minha opinião. Essa lista magoou muita gente”, considera Maria Lavínia de Fátima.
Enquanto estava em São Paulo, Maria José dos Santos recebeu a lista e salienta que é preciso “respeitar as pessoas. Era mais fácil eles chegarem e falarem para a própria pessoa”. Uma prima dela foi citada e “ficou muito chateada, porque ela é super gente boa, prestativa, legal, a família dela é legal e ter o nome assim numa lista. Tive muitos amigos também, fiquei muito chateada, (é de) muito mau gosto”.
Denúncias podem ser feitas à polícia
Até a última sexta-feira (04/02) nenhum morador registrou ocorrência, informa o delegado de Silvianópolis e professor de direito penal, Luiz Felipe Brizzi. “Quem elabora essa lista, quem cria, pratica sim o crime de injúria tipificado no Artigo 140 do Código Penal. É um crime contra a honra. E quem compartilha essas imagens pratica um crime contra a honra também, um crime de difamação.” Para denunciar é preciso fazer o boletim de ocorrência e levar o documento e provas como imagens da lista, até a delegacia. O delegado informa que nesse caso é aberta investigação e a pena pode chegar a dois anos de prisão.