Como que cultura e aspectos urbanos contam nossa história

Mariana Sayad / 01 março 2019

Jornalista, gestora cultural
Editora do site Cultura não é Perfumaria 
Co-fundadora do Observatório Luneta

Hoje, seria um ótimo dia para falarmos sobre o Carnaval, afinal está aí e todo mundo no clima de folia. Mas ao contrário, vamos falar sobre história. Na verdade, sobre urbanismo e cultura. Não sou urbanista, já aviso, mas gosto do assunto porque gosto de cidades, de pessoas e adoro histórias.

A história de um país vai além dos fatos contados nos livros. Ela é composta pela cultura de grupos, por diversas histórias de pessoas que vão se encontrando… Ou seja, pelas tradições, pelo cotidiano… Uma forma de contar a história de um país é justamente pesquisar sobre a cultura, que diz muito sobre um povo. Um bom exemplo é o estilo musical choro, que surgiu no século XIX. A formação instrumental dos grupos de meados do século XIX é completamente diferente do século XX. Isso porque no início eram músicos europeus de orquestra e escravos libertos que tocavam o choro, então tinham violinos, piano, bombardino, trombone nos grupos. Já no século XX, os grupos passaram a ser profissionais, então, tinha violão, violão de 7 cordas, pandeiro, cavaquinho.

Antiga estação de trem de Pouso Alegre, onde onde a Casa de Cultura e Galeria Artigas.

Os instrumentos musicais mostram a classe social dos músicos, o desenvolvimento da música na sociedade e outros aspectos que retratam muito da sociedade de cada época. Na questão urbanista é mais evidente ainda a história, pois através dos patrimônios históricos podemos saber mais sobre o passado de uma cidade. Por exemplo, em Pouso Alegre temos a Antiga Estação de Trem, que faz parte de toda a história da ferrovia de Minas Gerais, que por sua vez é parte importante do desenvolvimento do país, processo de industrialização e por aí vai.

Conforme as transformações urbanas vão acontecendo, vamos alterando também nosso passado histórico, apagando informações importantes para nos conhecermos como país e nação. Além disso, precisamos nos atentar aos locais de encontro, como praças, que são cada vez mais raras nas cidades. Isso significa que as pessoas ficam sem locais de encontros, sendo estes espaços onde a cultura se desenvolve, por exemplo.

Em São Paulo, onde morei por mais de 30 anos, as praças ficaram abandonadas por anos. Porém, em um determinado momento as pessoas passaram a cuidar das praças de seu bairro. Pois, todos perceberam como é bom ter um local de encontro, com muitas árvores, parque para as crianças, um local de tranquilidade no meio de uma metrópole. As pessoas precisam se apropriar de suas praças, cuidar delas em parceria com o poder público, para que sejam preservadas e cuidadas. Elas também fazem parte da nossa história, contam sobre nosso passado, que tem reflexos no presente.


Sobre a colunista

Mariana Sayad escreve quinzenalmente sobre cultura, arte, políticas culturais de Pouso Alegre e região aqui, no Terra do Mandu. Jornalista de formação, gestora cultural há mais de 15 anos. Tem MBA em Bens Culturais pela FGV-SP e especialização em História, Sociedade e Cultura pela PUC-SP. É natural de São Paulo, mas mora em Pouso Alegre deste 2013, onde já trabalhou na Secretaria Municipal de Cultura, entre 2015 e 2016.

Atualmente, é editora do site Cultura não é Perfumaria e, ao lado de Júlia Lopes, co-fundadora da empresa Observatório Luneta, que é especializada em Economia Criativa.

Mais Lidas