Política

Em entrevista, presidente da FUVS faz balanço dos três meses no Conselho Diretor da instituição

Magson Gomes / 26 dezembro 2018

José Walter da Mota Matos fala das dificuldades financeiras da FUVS e das medidas que estão sendo tomadas, como a demissão de funcionários para economizar até R$ 500 mil por mês na folha. O presidente afirma que HCSL atravessa situação difícil e espera receber os repasses de mais de R$ 20 milhões devidos pelo governo do Estado.

Nesta semana, fez três meses que o novo Conselho Diretor foi nomeado e passou a administrar a Fundação de Ensino Superior do Vale do Sapucaí (FUVS). A fundação é filantrópica e mantenedora de uma universidade, dois colégios, um com ensino infantil ao médio e outro de formação técnica, e ainda o Hospital das Clínicas Samuel Libânio, que recebe pacientes de 153 municípios do Sul de Minas. A instituição tem cerca de 2.400 funcionários e é o segundo empregador de Pouso Alegre, atrás apenas da prefeitura.

Após um período de gestões interinas na fundação, o delegado de Polícia Civil José Walter da Mota Matos, eleito em assembleia geral e indicado pelo governador Fernando Pimentel, assumiu a presidência da FUVS. José Walter recebeu a reportagem do Terra do Mandu em sua casa, durante o recesso de fim de ano, para fazer um balanço dos primeiros meses à frente da instituição; dos desafios enfrentados; das medidas já tomadas e das perspectivas para o próximo ano.

Além de José Walter, o Conselho Diretor tem Elieser Castro e Paiva (vice-presidente), e Lucas da Silveira (Conselheiro).

De acordo com o presidente, a primeira atitude do novo Conselho Diretor foi fazer um diagnóstico dos principais problemas da fundação. As dificuldades financeiras eram o problema maior. Há atrasos nos repasses de verbas devidas pelo governo de Minas ao Hospital das Clínicas Samuel Libânio; existe também problemas financeiros internos, com folha de pagamento inchada.

Para equilibrar as contas, o presidente explica que estão sendo feitas algumas demissões. Até o momento, 76 funcionários foram desligados. Entre eles, 23 professores de cursos de mestrado e doutorado da universidade, que recebiam altos salários. “Nós tomamos uma medida ousada, uma medida séria, de começar os cortes pelos maiores salários. Estamos fazendo isso com muito critério, com muito cuidado para que uma área não fique desfalcada daquele profissional que ela necessita”, afirma José Walter. A expectativa é economizar até R$ 500 mil por mês na folha de pagamento da instituição

Na entrevista a seguir, o presidente da FUVS comenta ações tomadas no período e cita, indignado, os atrasos nos repasses do governo de Minas Gerais ao Hospital Samuel Libânio. Segundo José Walter, a dívida já ultrapassa R$ 35 milhões. A esperança é que o novo governador Romeu Zema, que toma posse no dia 1º de janeiro, comece a regularizar esses repasses.

José Walter afirma que a situação do hospital é muito difícil e que tem contado com a solidariedade de muitas pessoas.

Confira abaixo entrevista em texto e vídeo:

FUVS mantém universidade, hospital e colégios (Foto: Terra do Mandu)

Qual o balanço que o sr. faz dos três meses à frente da FUVS?

José Walter da Mota Matos (pres. Da FUVS): Balanço muito positivo. Começamos fazendo um diagnóstico dos principais problemas. E logo em seguida, muito trabalho para corrigir o que está precisando ser corrigido.

A gente não faz isso sozinho. Estou na presidência, mas conto com o trabalho sério e responsável do meu vice-presidente, Elieser Castro e Paiva, do meu conselheiro Lucas da Silveira, do nosso diretor executivo, Luís Augusto de Faria Cardoso, e uma parceria muito importante, muito proativa com a reitoria, através do nosso reitor, Antônio Carlos Aguiar Brandão.

Então, é um trabalho sério, responsável, muito operoso e que já está dando resultado para nossa instituição

Como está sendo ajustada a situação da instituição?

José Walter: O primeiro movimento nosso foi fazer um diagnóstico das dificuldades financeiras. E não tem como você trabalhar a questão de redução de custos sem fazer cortes. Então, nós tomamos uma medida ousada, uma medida séria, de começar os cortes pelos maiores salários.

Isso aconteceu, principalmente, na universidade, nos cursos de stricto censo de pós-graduação e doutorado, onde nós tivemos que fazer um ajuste, infelizmente, fazendo demissões daqueles que ganhavam muito. E porque que nós fizemos isso? Porque realmente as dificuldades de conseguir recursos em um cenário com atrasos de repasse do Estado, com aumento da concorrência na área educacional na cidade, nós não tivemos outra alternativa.

Mas fizemos isso numa forma de preservar nossos cursos de mestrado e doutorado que continuam funcionando normalmente.

Quantidade de cortes e economia para a instituição?

José Walter: Nos cursos de mestrado e doutorado nós tivemos um corte de 23 docentes. Esse corte representou uma economia muito grande para a instituição. E veja você como havia um inchaço na nossa folha de pagamento, porque mesmo com essas demissões a instituição continua funcionando normalmente.

Mas nós não fizemos isso apenas na universidade. Nós fizemos alguns cortes na fundação e no próprio hospital, adequando nossa realidade de pessoal à nossa realidade financeira. Isso se faz com muito critério, com muito cuidado para que uma área não fique desfalcada daquele profissional que ela necessita. E estamos também, em alguns casos, havendo recursos, fazendo contratações para que os serviços prestados não sofram solução de continuidade.

Nós já estamos com uma projeção de economia de R$ 400 mil a R$ 500 mil por mês. O nosso mestrado e doutorado, infelizmente, dava um prejuízo muito grande, da ordem de R$ 620 mil por mês. Então, com esses cortes, com essas demissões, o prejuízo que ainda continua, cai para uma margem mais suportável, em torno de R$ 120 mil por mês. Mesmo assim, nós estamos tentando melhorar nosso curso, otimizando e racionalizando custos para que ele continue sendo ministrado para os alunos já matriculados e vamos tornar mais acessível no aspecto financeiro. É um trabalho de reengenharia financeira feita por profissionais sérios, com muita responsabilidade e que vai dar resultado a médio e longo prazo.

Como está a situação do hospital?

José Walter: Situação muito difícil. Todo mundo sabe e é público e notório que o governo do Estado não está nos repassando aqueles recursos que, por lei, deveria destinar. Hoje o Estado reconhece como dívida que tem conosco de R$ 22 milhões. Mas, na verdade essa dívida é de R$ 35,8 milhões.

Nós tivemos que fazer empréstimos bancários para poder pagar os salários e 13º dos nossos funcionários. É uma situação de muita dificuldade, na medida em que o governo do Estado não está cumprido aquilo que a lei prevê.

Nós esperamos que o novo governo [Romeu Zema] que vai assumir a partir de 1º de janeiro esteja sensível à causa, não só do nosso Hospital Regional Samuel Libânio, mas com todos os hospitais do Estado que estão passando pela mesma crise. A área da saúde exige investimento e monitoramento constante. Quando você tem atrasos no repasse de recursos você cria uma dificuldade muito grande para quem tem a responsabilidade de administrar.

Como está sendo então para fazer o hospital funcionar devidamente diante dessa situação?

José Walter: Aí entra a questão dos cortes que nós falamos. Além da redução de custos, nós temos contado com a solidariedade dos municípios, de Pouso Alegre, principalmente. Recebendo extrapolamentos [dívidas] que nos eram devidos. E fazendo campanhas de solidariedade; apelando para o apoio dos municípios da região, afinal de contas, o nosso hospital atende a 153 municípios.

Graças a Deus, a população tem colaborado, tem ajudado. O hospital tem conseguido se manter, com dificuldade sim, mas não deixando de prestar aquele atendimento essencial e imediato que a população precisa.

Qual as projeções, perspectivas que o Sr. faz para 2019?

José Walter: A gente espera que os repasses atrasados voltem a ser colocados em dia. Vamos continuar trabalhando racionalmente, otimizando nossos recursos, diminuindo custos, gerando receita. E contando com a solidariedade.

Quero aqui registrar o apoio muito importante do Ministério Público Estadual que chamou o Estado à sua responsabilidade com um Termo de Ajuste de Conduta, e chamou também o município. Quero agradecer a prefeitura de Pouso Alegre que compareceu a esse TAC aportando R$ 3,6 milhões nas contas do hospital, pagando extrapolamentos antigos que deviam. Infelizmente, o Estado ainda não fez a sua parte. Mas a gente acredita que com a mudança de governo isso será corrigido.

Com esses recursos, com a redução dos gastos, com a otimização da administração, a gente espera atravessar o ano de 2019 com dificuldade sim, mas fazendo aquilo que precisa ser feito para que a população tenha um atendimento de qualidade.

Pelo que já vem acompanhando nesses três meses à frente da FUVS, qual a importância dessas instituições mantidas pela fundação?

José Walter: São instituições fundamentais. Colégio Anglo é excelência no ensino médio, preparando nossos jovens para o vestibular. O Colégio João Paulo II é de formação técnica e nós vamos investir muito nele porque nós sabemos que Pouso Alegre se tornou um polo farmacêutico, um polo industrial muito importante e a gente precisa de formação técnicas para nossos jovens. Temos o programa Jovem Aprendiz, vamos pegar os jovens de baixar renda e prepara-los para o mercado de trabalho, é um investimento social importante no Colégio João Paulo.

No nosso Hospital Regional já temos feito melhorias já nesses três meses de gestão. Promovemos a revitalização do Laboratório de Análises Clínicas, ampliação do setor de oncologia, e também criamos o ambulatório externo para desafogar o nosso Pronto Socorro.

É um trabalho diário, é um trabalho que não se faz sozinho. Nós temos uma equipe maravilhosa nos ajudando, nos apoiando. E é graças a essa união, a esse comprometimento dos nossos colaboradores que as coisas estão acontecendo. Então, se as vezes falta recursos, essa falta é compensada com muito trabalho e amor pela instituição. Dá para tocar.


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