Hoje, o que a enfermeira/faxineira mais quer é conseguir transporte para levar os filhos à creche.
Superação. É assim que podemos definir o dia a dia da enfermeira Carla Barbosa, de 41 anos. Ela está morando em Pouso Alegre há três meses. Veio para o Sul de Minas para em busca de um lugar mais tranquilo para criar os dois filhos gêmeos. Carla morava e trabalhava em São Paulo, capital. Depois de ter os gêmeos, o pai das crianças pediu para ela dar os meninos para adoção, alegando que o Brasil estava em crise e não daria para cria-los. Foi então que ela não quis mais saber daquele ‘homem’ e decidiu criar os filhos sozinha. Mas a luta estava apenas no começo.
Aqui em Pouso Alegre, a enfermeira teve que mudar de profissão, pelo menos por enquanto. Ela espalhou currículos por clínicas e hospitais. Mas conseguiu emprego de faxineira.
Carla está morando no bairro JK, próximo a BR-459 e a Fernão Dias.
“Eles acordam 05h10, para eu sair até 06h11, descer o morro do JK a pé, com eles no colo, para pegar o ônibus do Cidade Jardim, que passa por volta das 06h35, às margens da BR-459”.
Não passa transporte público onde Carla mora.
Carla deixa as crianças na creche e volta a pé até o trabalho, numa concessionária de caminhões no trevo Fernandão. “O próximo ônibus é 07h15, mas se eu esperar chego ainda mais atrasada no trabalho”.
No final da tarde, a mãe dos gêmeos tem um desafio ainda maior. É correr para buscar as crianças na creche. Ela desce do ônibus de um lado da rodovia e precisa atravessar para o outro para ir para casa. Além dos 25 kg das crianças juntas, ainda tem as bolsas deles da creche e dela do serviço. “Eu não tenho habilidade com tanto peso para poder correr. Então fico até 10 minutos esperando para atravessar de um lado para o outro. As vezes aparece um abençoado que para o trânsito para mim. Aí consigo atravessar rápido, sem muita correria”, conta.
Carla explica que não dá para usar o carrinho de carregar os gêmeos porque ficaria mais difícil para atravessar o canteiro da rodovia.
A mãe está em busca de transporte para os filhos. Mesmo que seja particular. Mas ela não tem conseguido. Ela já procurou prefeitura. Já ligou para cooperativas de vans. Outras mães divulgaram o pedido de Carla. E nada.
“Na prefeitura fui informada que só se eu morasse na zona rural e eles tivessem quatro anos [para ter direito ao transporte]. Então, eu peço, encarecidamente, ainda que seja particular. Eu estou disposta a pagar, lógico. O importante é levar eles”, pede a mãe que ao mesmo tempo lamenta que não tem encontrado o serviço para o bairro JK.
A enfermeira conta a luta diária:
O pai que não queria os gêmeos
A enfermeira disse que veio para Pouso Alegre para ajudar na formação dos filhos. Porque a criminalidade em São Paulo é mais preocupante. “Mãe solteira, filho homem, então o melhor que pude fazer para os meus filhos foi mudar. Abri mão de toda minha vida lá, de toda comodidade, para criar os meus filhos”, explica Carla que trabalhava na UTI de um hospital.
Situação que comove outras pessoas