Polícia

‘Evento natural’, diz inquérito final sobre queda de rocha em Capitólio

Delegado de Polícia Civil afirma que tragédia poderia ter sido evitada e que outras pedras podem vir a cair: 'necessário intervenção urgente'

Iago Almeida / 04 março 2022

Fotos: Reprodução

A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a queda de uma rocha no Lago de Furnas, em Capitólio, que matou dez pessoas no dia 8 de janeiro deste ano. Em coletiva de imprensa nesta sexta-feira (04-03), o delegado regional de Passos, Marcos Pimenta, informou que não identificou responsáveis ou culpados pelo desabamento da rocha.

Todas as vítimas estavam em uma única embarcação. A Polícia Civil ainda afirmou que não foi verificada nenhuma ação humana específica que tenha provocado a queda do paredão e concluiu que a ocorrência foi um “evento natural”. O arquivamento do inquérito foi solicitado.

“Nós averiguamos eventuais irregularidades do empreendimento, mas essas irregularidades não estão conexas com o tombamento da placa rochosa. Se houvesse (conexão), indiciaríamos responsáveis pelos dez homicídios, o que não ficou comprovado”, afirmou o delegado.

Ainda de acordo com a polícia, o foco inicial dos trabalhos era a identificação das vítimas e prestar auxílio aos familiares. “Foi uma ação rápida da Polícia Civil, que contou no ato da identificação com o apoio da Polícia Federal, houve a identificação séria, em apenas 36 horas, das 10 vítimas. Essas pessoas, foi provado que estavam na mesma embarcação de nome ‘Jesus’”, explica o delegado.

Por que a pedra caiu?

Um grupo de peritos que foi até a região e fez um levantamento geológico e arquitetônico do local, com apoio aéreo da Polícia Civil, foi acionado. O perito criminal Rogério Shibata afirmou que alguns pontos foram importantes para a queda, sendo a geografia do local, o principal.

“Presença de material argiloso na base da rocha que caiu. Erosão na base da rocha (nível da água muda dependendo da época do ano) bloco estava sendo erodido na base durante anos. O fluxo da água que cai da cachoeira vai de encontro ao local da rocha que caiu, contribuindo para a erosão da base”, explicou.

“A causa para o tombamento do bloco de quartzito ocorrido está relacionada ao processo natural de remodelamento de relevo, processo comum em toda região do cânion de Capitólio”, informou o relatório.

Mais pedras podem cair?

Segundo a instituição, outras pedras podem sim vir a cair. “Tem rocha lá em que é necessário intervenção urgente”, afirmou o perito e geólogo Otávio Guerra. Com isso, foram elaboradas pela Polícia Civil, dez sugestões para a melhoria da segurança em Capitólio.

Portanto, as sugestões serão encaminhadas aos órgãos e às instituições responsáveis pelo licenciamento e fiscalização da região. Entre elas está o mapeamento das zonas de risco, que já começou a ser feito. Além disso, a polícia pede a redução do número de embarcações permitidas nos cânions, o uso obrigatório de coletes salva-vidas em toda a represa e a proibição de passeios turísticos após advertências da Defesa Civil.

“Tudo poderia ter sido evitado. Hoje sabemos que há necessidade de termos um estudo de mapeamento do movimento de massa, mas seria muito leviano outorgar o piloto. Há necessidade de mudanças das nossas leis para que esses estudos de mapeamento geológico sejam”, aponta a PC.

Duas embarcações foram afundadas por rocha gigante e outra foi atingida. Imagem redes sociais.

Confira as sugestões da PC

  1. Realização de mapeamento de todas as zonas de risco (movimento de massas) por geólogos e/ou outros profissionais especializados no ramo, e sua demarcação em campo e em planta;
  2. Redução no número de embarcações nos cânions, as quais deverão apenas contemplar o local, em velocidade baixa e sem uso de aparelho sonoro;
  3. Implementação do selo de identificação nas embarcações;
  4. Identificação de todos os turistas que utilizarem embarcações, sendo que o controle/cadastro deverá ser armazenado/disponibilizado nos respectivos píeres;
  5. Uso obrigatório de colete salva vidas (em toda represa) e capacete na região dos cânions e áreas semelhantes;
  6. Maior integração entre os órgãos/instituições responsáveis pela concessão e fiscalização de empreendimentos turísticos;
  7. Proibição de passeios turísticos quando há comunicação de advertência pela Defesa Civil;
  8. Fortalecimento das fiscalizações de engenharia, geologia e ambiental;
  9. Exigência de estudo de risco e respectiva contenção para os empreendimentos turísticos;
  10. Efetiva participação de Furnas e da concessionária Nascentes das Gerais na adoção de medidas preventivas de segurança.


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