Voluntário do Sul de Minas em Brumadinho traz relatos da tragédia
Magson Gomes / 01 fevereiro 2019
Magson Gomes / 01 fevereiro 2019
Renan Andrade é membro de uma ONG ambiental e está na área atingida desde segunda-feira. Ele conta que o cenário é chocante e que dá muita tristeza ver o tamanho da tragédia. “Conversei com uma senhora e perguntei se ela tinha perdido alguém, ela disse que perdeu uma filha, mas para ela, a filha dela ainda estava lá, pois ela não tinha visto o corpo dela. A única coisa que pude fazer é abraça-la e chorar junto com ela”.

Onde ficava o pontilhão da linha férrea e que foi levado pela lama. (Foto: Paulinne Rhinow Giffhorn – 350.org Brasil)
Nesta sexta-feira (31) faz uma semana do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte. O rastro de destruição deixado pela lama é calculado a cada dia, desde então. Os números atualizados hoje são de 110 pessoas mortas e mais de 200 ainda desaparecidas. Se para quem acompanha as notícias através da imprensa já é chocante, para quem está no local da tragédia o impacto é ainda maior.
A reportagem do Terra do Mandu conversou com Renan Andrade, voluntário da região de Pouso Alegre que está na área atingida pela tragédia desde a última segunda-feira (28), terceiro dia do rompimento. Renan é natural de Estiva, no Sul de Minas, formado em Gestão Ambiental no IFSULDEMINAS, campus Inconfidentes, e hoje faz parte da ONG 350.org, que atua contra as mudanças climáticas.

Renan entre índios Pataxós, às margens do rio Paraopeba ‘lameado’ (Foto: Paulinne Rhinow Giffhorn – 350.org Brasil)
O ambientalista visitou comunidades atingidas pelo rompimento da barragem e esteve com parentes de vítimas que ainda estão desaparecidas. Renan também conversou com quilombolas e indígenas que vivem na região da comunidade do Córrego do Feijão e Rio Paraopeba.
“Nosso trabalho aqui é prestar solidariedade para as vítimas/sobreviventes e parentes das vítimas mortas; fazer uma análise socioambiental de tudo que aconteceu para projetar o futuro e ajudar essas pessoas”, conta Renan que completa: “Nós entendemos que esses impactos, não só da mineração, crimes socioambientais, culturais e humanos, como esse que aconteceu… eles também impactam diretamente nas mudanças climáticas que farão outras novas vítimas”.
Voluntário diz que chorou ao ouvir relato de morador da comunidade
Ontem (30) foi o pior dia de todos desde que estou aqui. Não só por ter um pouco mais de ideia sobre a dimensão do crime socioambiental, cultural e humano que a Vale cometeu. Mas por ouvir os relatos dos populares que ajudaram a fazer os primeiros resgates as vítimas.
Renan disse que ouviu relatos que teve uma pessoa que, no momento do rompimento, ligou pedindo ajuda, disse que estava dentro de uma caminhonete.
“Até hoje não encontraram a caminhonete. Conversei com uma senhora e perguntei se ela tinha perdido alguém, ela disse que perdeu uma filha, mas para ela, a filha dela ainda estava lá, pois ela não tinha visto o corpo dela. A única coisa que pude fazer é abraça-la e chorar junto com ela”.
Outras situações vistas e que estão sendo vividas pelos moradores também deixarão o voluntário chocado.
“Um relato que escutei de uma liderança indígena é que tiraram um pedaço da alma deles. Cada peixe que morre é um pedaço do corpo deles que está indo embora também. Eles têm rituais com as águas e o rio Paraopeba está completamente contaminado. É tudo muito chocante, impactante e dá muita tristeza”, afirma Renan.
VEJA O VÍDEO ENVIADO PELO VOLUNTÁRIO AO TERRA DO MANDU:
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